* O SENDEIRO – O MONÓLOGO DE ALINE MONT’ALVERNE PONTES.

Minha face untada de cosméticos só fica corada de contentamento quando vejo meu saldo bancário alimentado por meu primo bastado Sávio Pontes. Meus dedinhos delicados já demonstram fadiga de tanto assinar cheques e transferências de valores para contas de laranjas e para outros desvios paralelos. Pensando bem estou precisando de uma comissão mais generosa. Como está só posso ir ao De La Ville Café na França uma vez por mês. Ai que tédio! ...Municipiozinho pobre é este Ipu! O F.P.M. deveria ser maior, assim os repasses de meu priminho bastado garantiriam meu futuro morando eternamente as margens do Rio Sena, dançando tango na Avenue Des Champs Élisées em Paris... Aí, aí... Assim mesmo, MERCI BOCU POVIM DO IPU. Falando em futuro, não consigo aprovação nem em vestibular de faculdade particular. Meu primo INTELECTUAL Sávio Pontes vive aconselhando-me a ler mais assiduamente as revistas, “caras”, “contigo”, o horóscopo de Zora Yonara, e o Almanaque do Pato Donald. E para ficar bem informada recomendou-me a assistir sempre o Faustão, o Pânico e o Big Brother. Incomoda-me tanto as imagens do sorriso de felicidade daquelas fumeiras do bloco. Parecem tão espontâneos, tão naturais. Aí que inveja! Ah, deixa prá lá! E os textos daquele IDIOTA que pensa que é escritor. Só quer ser OLAVO BILAC. Aí que ódio! Mas o que será mesmo Parnasianismo? Lá fora ta chovendo, tomara que chova muito no Ipu para meu primo bastado decretar estado de calamidade pública, assim vem uma verba extra e por tabela minha comissão aumenta. E o sorriso de felicidade daquelas fumeiras do bloco, ELES dizem-me que elas são tão felizes... Aí que inveja! E aquela cerveja parecia estar tão gostosa e gelada, em meio a tanto calor humano, na cumplicidade dos braços nos abraços envolta a uma atmosfera de gente alegre, sem os disfarces e os medos dos rabos presos. E eu envolvida até o pescoço e ainda por cima MAL AMADA. João Lira queixou-se de que não sou boa de cama, que tenho estrias, que não sei mexer bem os quadris. Pedro Josino disse-me que preciso por silicone, pois estou com os seios de uma balzaquiana desleixada, de uma índia velha, e não sabe como encontrar meu ponto “G” . Será que faço parte daquela estatística de mulheres que nunca chegaram ao orgasmo? Também com aquela FLACIDEZ peniana dele. E é porque tenho excesso de umidade vaginal. Aí que ódio! E aquelas fumeiras do bloco parecem saciadas e bem amadas por seus homens, sempre dispostos a realizar suas fantasias e aquecer suas carnes duras, balbuciando em seus ouvidos enquanto as amam, poemas de PABLO NERUDA. Aí que inveja! O gago do Florival cospe-me toda a orelha e só sabe recitar os cordéis do João Batista da Rádio Regional. Aí que ódio! O imbecil daquele SENDEIRO deveria fazer um poema prá mim. Aquele RIDÍCULO pensa que é escritor. Só quer ser MIGUEL DE CERVANTES. Mas o que será mesmo Parnasianismo? Ainda não consegui concluir a leitura da versão em livros de “Xuxa e os duendes”. Quando doutorar-me, minha tese será sobre o complexo de Peter Pan... Aí, aí que tédio! Ainda bem que irei passar a primavera em Paris quando creditarem em minha conta o desvio do FUNDEB. Vou consultar minha conta bancária pela internet, ver se meu primo bastardo já depositou o saldo do repasse da conta de iluminação pública do povim do Ipu. Não me sai da cabeça aquele AR de mulher que é amada e sabe amar das fumeiras do bloco? Com certeza se desdobram de prazer quando seus homens lhes deixam em brasa na compressão de seus peitorais protuberantes e bem definidos, lhes arrepiando os pêlos quando sua nuca é acariciada pelo queixo desleixado de uma barba por fazer, de um macho ALTO e viril. Aí que inveja! O ANÃO DO FANICO só alcança meu umbigo. E beija-o pensando ser minha boca. Aí que ódio! Aquele ANALFABETO do sendeiro deveria dedicar-me um poema erótico, que falasse dos fetiches que meu corpo provoca e instiga os instintos selvagens dos homens. O TOLO deveria dedicar-me uns versos que me lambuzassem de elogios, que me agredisse com palavras carregadas de sensuais adjetivos e metáforas, saciando meu ego feminino. Aquele PROTÓTIPO de dramaturgo do pensa que é contista. Só quer ser o STANISLAW PONTE PRETA! Mas o que será mesmo Parnasianismo? Aí que ódio! Não consigo concluir o livro da Bruna Surfistinha, e o Ali Baba e os Quarenta Ladrões que meu priminho bastado recomendou-me, nossa que coincidência! Estão tocando a campainha, deve ser as flores que o Nonato Martins ficou de mandar para mim. Nossa que horror! Ai que ódio! É A POLICIA FEDERAL.