* O SENDEIRO – A PROFANAÇÃO DE UM EMBUSTEIRO.

__Lúcifer, Belzebu e Asmodeu vindes aqui na fornalha do fogo eterno! Olhai minha face! Vejais vós, se adquiri o semblante humilde dos romeiros do Padre Cícero. Os olhos misericordiosos de S. José, a calvície respeitosa de S. Jerônimo, a inocência de S. Cosmo e Damião, a beatitude de S. Francisco de Assis. Vedes! Como estou? Que acham? __Esta irreconhecível mestre! Mas, por que estás com as feições que usas quando estais na terra, no teu gabinete na Prefeitura? Dizei-nos a onde vais? __A MISSA! De repente as chamas do inferno tomaram proporções nunca vistas. O calor era tanto que lá no céu os anjos temiam uma combustão em suas asas. Derretera as cordas da harpa de Santa Cecília, Santo Onofre jogara sua imensa barba sobre uma nuvenzinha que ia passando para não queimá-la, S. Jorge tentava dominar o dragão que acordara, o carneirinho de S. João Batista berrava tal ovelha desgarrada, S. Benedito ficara branco de tanto susto, os lírios de S. Antônio murcharam. Santa Luzia perdera a bandeja que conduz seus olhos, o cachorro chagado de São Lázaro uivava alucinadamente e São Pedro tratou logo de reforçar as fechaduras do céu com medo de uma invasão do espírito zombeteiro. A crosta da terra onde vagam os zumbis e as almas apenadas fora tomada de alegria infernal. No altar da igreja matriz, S. Sebastião desce do pé de laranjeira, tira as flechas e pede para Santa Rosa guardá-las enquanto vai ao encontro do imenso padre para lhe transmitir energias revigorantes. E o encontra curvado com a face quase ao chão pelo peso dos pecados do demônio do Ipu no confessionário __”Não tenho forças para interceder pelo perdão de teus pecados aos céus! Pois não há um só que não seja MORTAL. Quanta fome fizestes passar as pobres criancinhas das Escolas Públicas, quantos cristãos enganastes pelo mundo com tua vida desonesta, quantos sonhos e planos roubastes dos professores ao apossar-te de seus FUNDEB já creditado em suas contas pela ex-prefeita! Este que fora teu PRIMEIRO ATO como Prefeito! Atrasas o pagamentos dos salários de garis, merendeiras e servidores mais humildes, fazendo-os passar privações até de suas necessidades básicas. Eis indiferente a dor que permeia nas enfermarias de um “HOSPITAL NA U.T.I.” que mais parece o campo de concentração nazista de Auschwitz ao usar os pobres enfermos como cobaias ou experimentos para médicos de capacidade duvidosa. Porém, tenho por obrigação de oficio mandar-te para a comunhão”. O inferno delirava pela atitude cínica e profana de seu comandante. As estátuas dos quatro evangelistas no alto da torre rezavam pelo pobre padre que dialogava cara a cara com o demônio de aspecto humano, tal como acontecera com SÃO BENTO DE NÚRSIA na Itália. Os pés da sacristia começavam a tostar pelo calor. O padre ergue-se e vai combalido para a celebração. O demônio com o ectoplasma do Sávio Pontes sorri para os fieis que se preparavam para a comunhão. Um senhor que tem o sugestivo nome de Nazareno, e que empresta sua voz nas missas, desafina e cala tomado por uma síncope nervosa assim como todos os demais membros do coral que o acompanhava. O imenso padre parece ter adquirido a estatura de um anão. Pega o cálice, e tremulo entrega-lhe a hóstia sagrada depois de embebê-la ao vinho. O lobo em pele de ovelha sorri intimamente acreditando esta enganando o povo cristão do Ipu. Antes, porém, da hóstia tocar na boca do menestrel das trevas, transforma-se em letras fluídicas e vermelhas que levitam em frente ao altar da igreja matriz e formam a palavra: DEMAGOGIA POLÍTICA.